Olegário Araújo, FGVcev
O modelo de sociedade no qual vivemos se consolidou no século XX, associado à produção em grande escala. Henry Ford, com sua linha de montagem, reduziu os custos e afirmou que “O cliente pode ter o carro da cor que quiser, contanto que seja preto”. A contribuição de Henry Ford para a sociedade foi fundamental. A Urbanização e o fortalecimento das grandes corporações pós-segunda Guerra Mundial foram outros dois fatores que contribuíram para consolidar o conceito de produção em massa e produtos de alto giro, e viabilizando a economia de escala.
O avanço tecnológico exponencial confirma a Lei de Moore, postulada em 1965, que dizia que o poder de processamento dos computadores dobraria a cada 18 meses. Essa lei se confirmou e temos avanços disruptivos proporcionados pelo desenvolvimento da informática.
De lá para cá, a tecnologia se desenvolveu e ficou financeiramente mais acessível para os cidadãos e empresários de todos os portes. Nos anos 90 tivemos chegada do celular e da Internet no Brasil e com eles as redes sociais, smartphones, Internet das Coisas etc. A tecnologia acelerou a inovação e tornou o ciclo de vida dos produtos mais curtos.
Para competir e obter crescimento das vendas a indústria tem aprofundado seu conhecimento sobre seus consumidores, segmentando-os em grupos homogêneos e desenvolvendo produtos de acordo com seus estilos de vida, visando atender as diferentes necessidades e desejos. A consequência foi uma explosão de opções. Temos novos produtos e versões de produtos a todo momento. Um mundo definitivamente fragmentado.
Cabe agora colocar o ser humano no centro das decisões. Este, de maneira geral, não quer ser mais um no meio multidão. Queremos soluções personalizadas e há tecnologia disponível para atender as necessidades e desejos das pessoas. A cada nova experiência online que temos, aumenta nossas expectativas por maior conveniência, sem atritos e menor tempo.
Usar os dados no processo de tomada de decisão não é algo novo e o precursor mundialmente reconhecido é William Edwards Deming, criador do ciclo Deming ou modelo PDCA (Plan, Do, Check and Act) e de frases célebres como: “Em Deus eu acredito, os outros precisam me apresentar dados e fatos”; ”Sem dados você é mais uma pessoa qualquer com opinião”; “O que não é medido não é gerenciado”. Mas em um ambiente que tudo se altera em alta velocidade, hiper fragmentado, volátil, incerto complexo e ambíguo está impossível o ser humano acompanhar tudo e tomar boas decisões apenas com base na intuição e experiência e o uso de dados virou um fator essencial.
Não é por acaso que em 2006, Clive Robert Humby, fundador da dunnhuby, afirmou que os dados são o novo petróleo. A afirmação de Humby ganhou destaque em 2017, quando a revista inglesa The Economist, em sua matéria de capa, destacou que os dados são o recurso mais valioso do mundo e estão definindo as novas regras de competição. A imagem da matéria era uma plataforma petrolífera com destaque para Amazon, Facebook, Google, Microsoft, Tesla e Uber. Mas, como disse o vice-presidente da Associação dos anunciantes dos Estados Unidos, Michael Palmer, “Dados são brutos, assim como o petróleo cru. É valioso, mas se não for refinado não pode realmente ser usado. Têm que ser transformados para que tenham valor”.
A explosão de dados e a impossibilidade humana de acompanhar o ritmo das transformações, coloca os dados, definitivamente, como elemento central no processo de tomada de decisão.
Indiscutivelmente os fatos são o melhor guia para decisões e ações, mas a análise é um músculo a ser construído. Como disse Palmer, os dados precisam ser tratados, mas, antes disso, há uma jornada que começa com as pessoas, a cultura da empresa, a estrutura, os processos e a tecnologia.
- Ser uma decisão da liderança da empresa. Só com o comprometimento da alta administração é possível o estabelecimento de uma cultura baseada em dados;
- Colocar o ser humano no centro para conhecer os clientes e funcionários, suas necessidades, expectativas, missões e jornadas;
- Ter uma estratégia clara para saber em quais dados se concentrar e como alocar os recursos analíticos;
- Conhecer os vetores de desempenho. Diante da operação com diferentes modelos de negócio e formatos é vital rever as métricas e indicadores para que reflitam essa nova realidade;
- Redesenhar e integrar os processos para ter agilidade e uma “única versão da verdade” em tempo real.
- Um caminho usado por muitos é escolher uma área para desenvolver as habilidades analíticas, fazer experimentos, medir e, desta forma, ter elementos que comprovem os benefícios de ser uma empresa orientada por fatos.
- Como colocar, efetivamente, os clientes no centro? Quais são os clientes mais lucrativos? Quais são os clientes potencialmente lucrativos? Como vamos atendê-los? Como personalizar o conteúdo?
- Como podemos nos distinguir no mercado? Qual a nossa competência distintiva?
- Qual o papel estratégico das categorias? Qual o sortimento ideal por grupo de clientes/loja?
- Qual a melhor forma de precificar para sermos competitivos e termos a melhor margem? Com otimizar os preços?
- Como melhorar a cadeia de abastecimento? Como reduzir os custos com estoque e mitigar as rupturas?
- Com otimizar a localização de lojas?
- Quais decisões-chave nesse processo, e em outros requerem o apoio de insights analíticos?
- Quais informações são realmente importantes para o negócio?
- Quais são os pontos de alavancagem do conhecimento e das informações para o desempenho da empresa?
Na era da velocidade, hiper fragmentação, personalização e necessidade de criar diferenciais competitivos, os dados podem fazer a diferença, mas é necessário pensar estrategicamente para que as análises contribuam para a criação da verdadeira distinção competitiva.
Especialista em varejo com atuação nos setores de supermercados e drogarias. Formado em administração e mestrado acadêmico na linha de estratégias de marketing pela FGV EAESP, foi diretor de atendimento ao varejo na Nielsen. É Cofundador da Inteligência360, pesquisador do FGVcev - Centro de Excelência em Varejo da FGV EAESP e membro da SCIP – entidade internacional que congrega os profissionais de estratégia e inteligência competitiva.